REPORTAGEM NO JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO (DEZ 2006)

País tem quase 1 milhão de mórmons e Igreja não pára de crescer.
Em seis anos, número de fiéis aumentou 460% no Brasil, enquanto a população de católicos encolheu

Adriana Dias Lopes( Repórter do jornal, O ESTADO DE SÃO PAULO)

Eles são os fiéis que toda religião procura ter. Os mórmons têm a doutrina na ponta da língua, se dedicam a programas missionários e pagam o dízimo em dia. E, o oposto do que vem ocorrendo com outras religiões na última década, o número de membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias - Igreja Mórmon - cresce cada vez mais.Neste ano, eles chegaram a 12,5 milhões no mundo - em 1990, eram 7,7 milhões. No Brasil, nos últimos seis anos, o número cresceu cerca de 460% (hoje são 928 mil, em 2000 eram 199 mil).

A última pesquisa sobre o trânsito de fiéis feita pelo Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais mostrou que o porcentual de católicos no País, por exemplo, caiu de 73,9% para 67,2% em cinco anos.

O dia-a-dia de um mórmon é rigoroso, o que torna a religião atraente para muita gente, de acordo com especialistas. 'Eles têm um programa sistemático de vida, assumem compromissos, têm comportamento regradíssimo', avalia Edin Sued Abumanssur, professor de Teologia e Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica (PUC). 'Em tempos de violência, de dificuldade em organizar a vida familiar, muitos podem ver a conduta mórmon como uma espécie de orientação.

'Os mórmons não tomam café, chá preto nem bebida alcoólica. Não fumam. Entrar nos templos, onde são feitos casamentos e batizados, é um 'privilégio sagrado'. Ou seja, apenas aqueles que têm uma 'vida digna' recebem autorização. E este é o principal objetivo de qualquer membro da Igreja dos Santos dos Últimos Dias.

Se pecar, o mórmon não é absolvido, como os católicos. A redenção, conquistada por etapas, é por conta dele. O primeiro passo é reconhecer o próprio pecado. Depois, restabelecer a situação criada a partir do pecado, pedir perdão a Deus e à pessoa prejudicada pelo pecado. 'O processo de arrependimento pode durar dias ou anos', explica Gerson Pereira Jaques, diretor de Comunicação da Igreja.

A doutrina explica quase tudo. 'Usamos muito pouco a palavra mistério', explica Paulo Renato Grahl, diretor de Educação Religiosa da Igreja.Eles acreditam, por exemplo, que os humanos existiram antes de nascer. Na vida terrestre, têm de provar que são dignos de voltar a viver no paraíso. Esperam a segunda vinda de Jesus, que trará mil anos de paz e alegria aos homens. Mas, antes que ele venha, haverá sinais e os obedientes os reconhecerão.

Não veneram a cruz porque é um símbolo de sofrimento de Jesus. Os batizados podem ser feitos depois da morte.'BIG LOVE'Os casamentos não são separados pela morte - eles duram a eternidade. A série Big Love, produzida por Tom Hanks, que estreou no Brasil em outubro no canal HBO, levantou polêmica, mostrando uma família mórmon polígama em Salt Lake City, sede da Igreja.Em resposta, a Igreja preparou uma nota internacional sem rodeios, afirmando que 'a poligamia foi oficialmente descontinuada na Igreja dos Santos dos Últimos Dias em 1890. Os grupos que continuam a prática não têm atualmente associação alguma com a Igreja. Infelizmente, esta distinção é freqüentemente perdida pelo público e até por certos jornalistas experientes.

'A Igreja Mórmon é dirigida por um profeta vivo e mais 12 apóstolos, assim como era nos tempos de Cristo. Eles aceitam a Bíblia como escritura sagrada, mas têm um livro próprio de interpretação, o Livro de Mórmon.O livro reúne relatos de apóstolos do continente americano. Para eles, Jesus passou pela região (provavelmente nos Estados Unidos) depois da ressurreição e falou com apóstolos, como Mórmon (que deu nome aos seguidores da Igreja).

Mas os mórmons surgiram bem depois. Em 1820, Joseph Smith, um jovem de Nova York, pediu a Deus orientação para saber qual das Igrejas ele deveria seguir. Em resposta, Deus e Jesus (em corpos separados) disseram que ele fundaria a Igreja verdadeira e que por isso não deveria se juntar a nenhuma outra.

EVANGELIZAÇÃO
Os mórmons sabem evangelizar como poucos. 'Eles são muito bem treinados. Têm a missão como meta principal', avalia Fernando Altemeyer, teólogo da PUC. 'Ao contrário do que ocorreu com eles, o católico foi se acomodando, deixando a missão na mão do padre.'Desde criança eles aprendem a colocar em prática os princípios cristãos, participando semanalmente das Escolas Dominicais. Um dos exemplos mais impressionantes são as detalhadas orientações sobre como viver a harmonia familiar. Os mórmons têm um livro de 346 páginas com sugestões de convivência familiar, como leituras, assuntos para conversas e brincadeiras.

Nenhum comentário: